RESENHA - RICARDO E VÂNIA
- Jornal Expresso Anhembi
- 29 de out. de 2020
- 3 min de leitura
POR: ERICA ALMEIDA SILVA
"O maquiador, a garota de programa, o silicone e uma história de amor." Essa é a frase de efeito da capa da história real do "desconhecido". Desconhecido, porque há pouco tempo descobrimos a real identidade da pessoa que deu entrada no hospital, sem documentos e mais tarde, ao falecer, sua lápide estampa a não identificação. Chico Felitti, jornalista e escritor investigou durante muito tempo a história desse homem. E por trás dos documentos, conhecemos Ricardo Correa da Silva, importante maquiador, conhecido em meados da década de 70, por maquiar celebridades como: Ana Maria Braga, Glória Menezes e afins. Ricardo nasceu em Araraquara, que muito novo decidiu morar em São Paulo. Ricardo dizia: "eu não volto para Araraquara nem morto". Era vaidoso e por amor a vaidade, fez dela sua profissão. Trabalhou em diversos salões de beleza, o Shirley's foi o primeiro onde foi sua grande escola. Depois foi o Casarão, depois foi o seu próprio salão, quando voltou para Araraquara, quebrando sua promessa. Cada pessoa, amigo revela uma característica de Ricardo e traz também grandes histórias e registros que saíram sobre a memória de quem fala. Carlos, Vicky, Vagner e Vânia… Inclusive, Vagner nasceu Vânia, não nasceu na cidade de São Paulo, mas tempos mais tarde se mudou com a família, apesar das condições de seus pais melhorarem, Vagner sofreu bastante na escola com relação a bullying, humilhação e com isso, acabou se fechando por não ter ninguém para conversar. Os anos passam e Vagner volta a São Paulo, após anos morando com sua tia e já com a ciência de que algo tinha que mudar...Em seu comportamento, jeito, compreensão e na sua vida. Mas onde a história de Ricardo e Vagner (depois Vânia) se encontram? Era 1979, quando Vânia passava no Shirley's, salão de beleza em que seu irmão trabalhava e consequentemente, Ricardo também trabalhava e ali, se viram a primeira vez. É interessante como Vânia mantém viva essas memórias como se tivesse acabado de vivê-las. O ano era 1980, quando Vagner, com apenas 16 anos foi expulso da casa de sua tia, tomou o ônibus e foi para o Centro de São Paulo, mais precisamente na casa de Ricardo. Decoraram a casa juntos, trabalharam juntos, cresceram juntos. Até que em uma noite aconteceu o namoro inesperado. Namoro esse que durou 9 anos. Vânia queria mais...Queria leveza, liberdade, queria a realização de um sonho: ir á Paris. Nesse período, era apresentado a Ricardo por meio de um amigo farmacêutico e logo após estendido a Vânia "um bafo": silicone inócuo, uso medicinal, sem receita e "sem risco" como foi vendido. Por se achar feia, aceitou a aplicação. No primeiro momento, o resultado de bochechas e lábios inchados, porém lindos aos olhos de quem vê (no caso do Ricardo e do Vagner). Acabara se tornando um hobby, um aplicava no outro. Objetivo? Ser igual as bonecas chinesas de porcelana. Apesar do inchaço exacerbado na região das bochechas, Ricardo e Vânia gostavam daquela aparência, mas tudo começou a mudar quando as portas começaram a se fechar para as oportunidades de trabalho. Vânia parou de injetar em 1989, enquanto Ricardo eventualmente ainda fazia aplicações. Nesse mesmo ano, Vânia se mudou para Paris, e Ricardo para Ribeirão Preto e levou consigo, um galão da substância. Durante o tempo que ficaram juntos, Vânia relata a relação já desgastada: as chantagens emocionais, a prisão afetiva e psicológica que sofria ao lado de Ricardo. Vânia fugiu, foi morar em São Bernardo do Campo com sua irmã e meses depois se muda para Paris, sentiu sua vida transformada. "Vala Babbette!", os primeiros anos foram difíceis: "se virar" com um idioma diferente, continente diferente, pessoas e culturas diferentes. Eis que foi contratada para um trabalho na boate em Montparnasse. Anos depois, se tornou Kara, mudando sua estratégia de trabalho para se manter em Paris. Dentre tantos codinomes como Vênus, Venúsia e até o mais breve deles Hara, no final só queria ser ela mesma, com sua autenticidade, liberdade e vontade: Vânia que aos poucos estava fazendo de sua casa um salão de beleza em Paris e tornou a fazer tudo aquilo que nunca esqueceu. Hoje, ela é Vânia, a esteticista. Sobre Ricardo, apesar do termo “desconhecido” utilizado no início desta resenha, fez história na vida de muitas pessoas e contou muitas delas também. Hoje ele tem uma placa: Ricardo Correa da Silva que apesar do seu triste fim, viveu apenas querendo descobrir o seu lugar no mundo.
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