RESENHA - RICARDO E VÂNIA

POR: CAMILLE DE QUEIROZ LIMA

“Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece”. Esse foi o título da matéria publicada em 2017 pelo repórter Chico Felitti no Buzzfeed que em pouco tempo contou com mais de 1 milhão de acessos. Esse texto levou Felitti a escrever um livro-reportagem para contar a história de Ricardo, uma das “lendas urbanas” da Grande São Paulo, “Ricardo e Vânia: O maquiador, a garota de programa, o silicone e uma história de amor”, publicado em 2019 pela editora Todavia.

Ricardo Corrêa da Silva, popularmente (e pejorativamente) apelidado como “o Fofão da Augusta”, foi um homem que vagou por 20 anos nas ruas de São Paulo distribuindo panfletos, vestindo-se de modo extravagante e liderando um grupo de palhaços de rua. Um homem que foi marginalizado e excluído da sociedade, indo parar internado no Hospital das Clínicas (HC) como um mero desconhecido, sem identificação, sem nome ou familiares, apenas com os resquícios da violência social que lhe fora imposta. Não imaginava-se, porém, que o desconhecido teria sido uma figura importante da sociedade: um grande maquiador e cabeleireiro, viajado pelo mundo e conhecedor de outros idiomas. Felitti foi quem decidiu investigar sua história e, por meio de muitas pesquisas, viagens e entrevistas, conseguiu descobrir quem era Ricardo e apresentá-lo à sociedade de modo sensível, próximo, doloroso e melancólico.

Nascido em Araraquara, Ricardo possuía três irmãos com quem já não mantinha contato, aparência que incomodava os olhares alheios por possuir em sua face aplicações de silicone industrial (que se auto injetava) e temperamento explosivo por possuir esquizofrenia. Uma das principais figuras na vida de Ricardo foi Vânia Munhoz (na época, conhecida como Vagner por não ter ainda realizado a transição de gênero), seu único e amor. Vânia atualmente reside em Paris, França, onde trabalha como garota de programa. Porém, dentro da história de Ricardo, foi um jovem rapaz buscando seu primeiro emprego num salão de beleza na cidade de São Paulo.

“Ricardo e Vânia” é uma triste história de amor e representa a difícil realidade que infelizmente muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+ ainda enfrentam e, numa narrativa cheia de detalhes e descobertas, Chico Felitti constrói a biografia de Ricardo Corrêa de maneira única e cativante, prendendo o leitor a cada palavra e conectando-o emocionalmente a um completo desconhecido e muitas vezes o levando aos prantos ao avançar da jornada e cenários retratados pelo autor. É uma leitura importantíssima para uma construção plural de cada indivíduo e deveria estar nas prateleiras de todas as casas.